A Honda, uma das marcas que tem produção de automóveis no Brasil, vem perdendo espaço no mercado local ao longo dos últimos anos. Os números não enganam. A marca japonesa terminou o ano de 2020 com participação de 5,21%, e posição número 9 entre as dez marcas mais representativas no mercado interno. Os dados que observamos são da Fenabrave e olhando apenas para o segmento de automóveis, já que a Honda não tem comercialização de comerciais leves.
A queda vem após o modelo HR-V iniciar seu declínio no segmento de SUVs compactos, isto apresar de uma reação em 2019 que fez até os números do modelo melhorarem, mas confirmada em 2020 com desempenho nitidamente perdendo o fôlego. Nos últimos anos os dados mostram isso de forma clara. Olhando para a participação da marca, e retrocedendo no calendário, 2019 (5,7%); 2018 (6,26%); 2017 (7,06%) e 2016 (7,26%), paramos aqui para assinalar o ano de maior participação da Honda na última década, precisamente o ponto alto da comercialização do HR-V, terminando o modelo com 55 758 unidades emplacadas e liderança no segmento no final daquele ano.
O modelo foi vanguardista no seu conceito e design, antecipando tendências e conseguindo um crescimento praticamente imediato. Logo em sua chegada, no ano anterior, ele já mostrava o caminho de sucesso que tinha pela frente, com 51 155 unidades emplacadas. Aliás, 2015 foi um ano de bom desempenho para a Honda, com a 7ª posição na lista das mais vendidas no Brasil, fruto não só do bom desempenho do HR-V, como também pela importante participação do hatch FIT com 42 476 unidades.
O FIT dividia até então as atenções dos clientes da marca com o CIVIC, sendo os dois responsáveis pela marca sair dos 4,42% de participação em 2010, para os já comentados 7,26%, ponto alto da marca na década, em 2016.
Falando do CIVIC, o modelo foi o responsável pelo maior desempenho individual nos últimos dez anos, com as 60 986 unidades comercializadas em 2013, sem esquecer que naquele momento ele competia de forma direta com o Toyota Corolla, capacidade que foi perdendo ao longo dos últimos anos.
Voltando aos dias de hoje, os sinais de alerta são ainda mais evidentes ao olhamos para os números de janeiro de 2021, já que a Honda perdeu um pouco mais de espaço, representando apenas 4,88% do mercado brasileiro, atrás de Chevrolet, Volkswagen, Fiat, Hyundai, Jeep, Renault e Toyota.
O HR-V, que vem sendo o grande responsável pelas vendas nas lojas, fechou 2020 apenas em 17º lugar na lista dos veículos mais vendidos, com 32 511 unidades.
Mas quais as razões para este fraco desempenho? – Em nossa opinião são vários, e todos eles têm sua parcela de responsabilidade.
Primeiro, referir que o consumidor, de uma forma geral, tem a percepção de que os produtos da Honda são robustos e bem acabados, até por isso são modelos de baixa depreciação e alta rotatividade nas lojas de usados, precisamente por estas boas referências.
Já os produtos novos na atual linha da marca, esses carecem de atualização urgente, já que a maior juventude dos concorrentes parece fazer a diferença na hora da escolha.
Se City e Fit são bons produtos, mas com o peso dos anos influenciando seu desempenho, o WR-V foi um caminho que não deu certo, nunca conseguindo convencer o publico das soluções que a Honda aplicou para tornar um FIT, em algo um pouco mais versátil. Já o Civic é o que se apresenta mais contemporâneo, de linhas ainda bem atuais e esportivas, ele perdeu espaço por questões bem mais comerciais (preço, versões e equipamento) que propriamente o produto em si.
Deixamos o HR-V para último, já que continua sendo o “carro chefe” da operação da marca no Brasil. Uma proposta que foi tão futurista no seu lançamento que ainda hoje, após tantos anos com apenas algumas pequenas atualizações aqui e ali, continua sendo um produto de muita aceitação, mas que já não consegue esconder o peso dos anos. Além disso, quando a Honda fez sua última atualização ao modelo, tentou através da versão Touring trazer para a linha o toque de evolução que alguns de seus concorrentes já ostentavam, como o motor de maior desempenho e o teto solar panorâmico. O problema foi o preço, não só desta versão do SUV compacto, mas de toda a linha Honda.
Com preços menos competitivos que seus concorrentes, a reconhecida robustez e notada eficiência no pós-venda, são fatores que parecem não ser mais suficientes para manter o cliente na marca. Em paralelo observamos outro problema, a comunicação com o público. O eventual cliente está mais informado, ele busca desempenho e eficiência, mas também, ou principalmente, tecnologia. Hoje em dia o comprador está mais dinâmico, sendo que a comunicação da marca continua a destacar seus produtos através do seu perfil sóbrio e consolidado, mas esquecendo que a busca atual é muito mais por liberdade e conectividade, sem esquecer o design e o preço, claro, que sempre serão fatores decisivos na hora da decisão de compra, hoje e sempre.
Fica assim claro que o problema da Honda no Brasil não é só preço, mas também seu atual portfólio de produtos, e não menos importante, a forma de falar com o público. No atual cenário mundial de mudanças rápidas e contínuas, o tradicional pragmatismo e conservadorismo japonês, particularmente na gestão brasileira, parece não ser mais o caminho para o sucesso, e a Honda lá fora já entendeu isso, apostando na eletrificação de sua linha, com produtos modernos e diferenciados como o atraente urbano Honda e.
A Honda no Brasil precisa urgentemente de irreverência, de inovação, de sair de sua “zona de conforto”. Se o HR-V foi uma revolução que deu muito certo, é chegado o momento de a marca fazer uma nova revolução, agora na sua operação, olhando para o mercado brasileiro com mais ousadia, arriscando e acreditando.
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