
Aproveitando o último encontro do ano com os jornalistas, a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), apresentou os números do pior ano da última década para a indústria automobilística.
Antes mesmo de compartilhar com nossos leitores minha opinião sobre a atual situação do setor, deixo alguns dos números mais relevantes apresentados.
Em relação aos automóveis, e referente ao acumulado do ano até Novembro, a queda é de -22,6% em relação a idêntico período do ano de 2014, acompanhada ainda pela queda nos comerciais leves de -32,6%.
Se estes números vêm no seguimento da vertiginosa queda que mensalmente vem sendo apresentada, outros indicadores são, por si só, uma mostra clara do péssimo momento que vive a nossa economia, e o mais impressionante, e preocupante, pois reflete o estado de estagnação total da economia brasileira, sem investimentos relevantes em obras públicas, com todos os setores amargando quedas sucessivas, e o pessimismo se generalizando pelo país, são os números da produção de caminhões, com -46,5% no acumulado dos 11 meses contabilizados em 2015, comparados com o ano anterior, somados modelos leves, semileves, médios, semipesados e pesados. Se compararmos apenas os meses de Novembro de 2014 e 2015 a queda é de alarmantes -61,0%.
Segundo as palavras do presidente da entidade, Luiz Moan, recuamos dez anos, daí o título de nosso editorial de hoje, apresentando as empresas hoje patamares de produção nos níveis de 2006, ao mesmo tempo que fazem diversas ações para manterem o emprego nos níveis atuais, que são os de 2008. Estes dados serviram mesmo como exemplo para mostrar o esforço feito pelas associadas para manterem seu melhor património, seus colaboradores.
No entanto as notícias continuam muito negativas no setor, com cerca de 40 000 trabalhadores em regimes especiais de emprego e trabalho, muitas unidades de produção operando em apenas dois turnos, e outras fechando. Já os níveis dos estoques estão elevadíssimos e preocupando muito as empresas.
Já por diversas fezes manifestei minha opinião sobre os erros de estratégia cometidos pelas fabricantes ao longo dos últimos anos, com escolhas erradas, que vão do marketing, ao comercial, passando por políticas financeiras muito distantes de outros mercados. Mas erraram também e principalmente, por parecer acreditar, também elas, que um modelo de economia baseado no consumo, iria durar para sempre. Agora o esforço é por adequar a uma nova realidade, a nossa realidade. Todos estão esticando até onde podem, e quando mais não podem, a corda quebra para o lado do trabalhador, que também é responsável. Suas opções erradas no momento da escolha de seus representantes é um preço que a democracia cobra de diversas formas, e uma delas na forma de desemprego e instabilidade social.
No que se refere às maiores responsabilidades, as do governo federal, a incompetência se misturou com outros fatores ainda menos compreensíveis e dignos. Uma economia muito fechada ao comercio global, com politicas protecionistas que além de não trazerem desenvolvimento tecnológico ou de ajudar na manutenção de empregos, como fica bem claro no atual cenário, nos deixou também em maus lençóis junto a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Em outros países as tempestades servem para preparar para o momento da bonança, no caso do Brasil a bonança veio de forma equivocada, antes da tempestade, e agora, no olho do furacão, nada parece conseguir parar os ventos desgovernados da política e da economia.
Texto: Editorial de AJS
Foto: Revista Publiracing